sábado, 12 de fevereiro de 2011

Azul da cor do céu...

Era quinta feira a noite. Um dia normal de atividades em que, entre os compromissos tensos da semana, sentamos agradavelmente entre amigos para "falarmos de fé". Tivemos um momento alegre de trocas de idéias muito ricas à luz de C. S. Lewis. Mas não tão alegre que nos fizesse negligentes à evidente realidade do sofrimento humano. Na verdade, o problema do sofrimento era o tema de nossas conversas informais. E a conversa rolou solta... sem saber como parar... Até que chegou a hora de entrar no fusca pra voltar pra casa.

E o fiz, receioso como sempre de uma pane eminente no veículo, que pudesse me deixar abandonado em uma estrada de terra deserta e escura, que dá acesso à casa onde nos encontramos. A condução tem lá seus riscos, mas tem um radinho legal que sintonizei, então, numa estação local, quando fui surpreendido pela música que tocava, e que já ouvi e cantei algumas vezes, confundido pelas trocas poéticas de suas palavras. Fluia o som...

Ah...
na vida a gente tem que entender...
que um nasce pra sofrer...
enquanto o outro ri...

A gente tem mesmo que entender isso? Como entender o sofrimento de uma criança imobilizada por uma esclerose, que passa num carrinho de bebê pela cidade, conduzida pela mãe dedicada que divide seu tempo entre a criança, as responsabilidades domésticas e o trabalho fora pra garantir alguma mínima subsistência? Isso enquanto passa por ela um jovem que, sem ser tão dedicado, goza de saúde e alguns privilégios sociais que facilitam a sua sobrevivência diante de dificuldades igualmente... sufocantes, na cidade. (A pior tragédia é ser bem sucedido no que não importa). De onde virá a justiça dessa terra? Haverá justiça nessa terra?

Num passeio desinteressado pela cidade fica evidente que os privilégios de alguns realmente não são méritos de qualquer esforço próprio. E isso é por demais confrontador à nossa condição e existência.

A questão, me parece, é que o inevitável sofrimento é ameaça fatal ao impulsivo controle que pretendemos ter pra fazer as coisas correrem bem, na vida. E realmente, não é por nossas leis que as coisas acontecem, na vida, mas pelas leis da própria vida. E o sofrimento é uma condição inerente à propria vida. Como lemos de Lewis, "tente excluir a possibilidade do sofrimento que a ordem da natureza e a existência do livre-arbítrio envolvem, e descobrirá que excluiu a própria vida." (C. S. Lewis - O Problema do Sofrimento: www.scribd.com/doc/4092705/C-S-Lewis-Problema-do-sofrimento).

Dá pra pensar nisso num bate papo entre amigos, dirigindo em via escura, ou andando entre as mazelas sufocantes das cidades, onde percebemos que o sofrimento é eminente em todos nós. Não há condição segura a qualquer homem, risonho ou contrito. Ambos estão igualmente expostos à pane eminente do próprio corpo. E só nos resta se ajustar às leis da própria vida. Diante do medo, há quem reconheça uma lei maior na vida, e que se contrasta com as nossas próprias, e que torna possível até a percepção do próprio sofrimento. 

Bem, mas a música continuava...

Mas...
quem sofre sempre tem que procurar,
pelo menos vir achar,
razão para viver...

Que razão é essa, meu Deus? (opa! ...)

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