terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Seu Luiz e Seu Vavá... muita história pra contar...

Os negócios da semana já começavam a todo vapor, na segunda-feira de manhã, mas a viagem de volta para o trabalho ainda seguia apreensiva, ate que os defeitos de mecânica da caminhonete acusaram que não chegariam no horário previsto. A Marmoraria Rocha Nobre aguardava a chegada do seu empresário, que arriscara a viagem ciente dos prejuízos comerciais para passar um fim de semana em família. O defeito eminente manifestou-se em plena descida, na rodovia, permitindo que seguissem por uns poucos quilômetros ate encostar o carro num posto de gasolina, vizinho a uma comunidade, na região de montanhas e rica em metais nobres, no interior de Minas.
Seu Luiz desceu do carro um pouco preocupado com o atraso para os negócios, já conhecendo o defeito grave do veículo, e perguntou se por ali tinha algum mecânico especializado pra trocar a peça quebrada. A resposta dos vizinhos não lhe dava muita esperança: “Quem mexe com isso por aqui é só o Seu Vavá, mas é cabra ruim de lidar... e não vai querer fazer isso pro senhor não!” Apesar da falta de grana pra convencer o tal cabra a fazer o serviço na hora, e ciente do risco de não encontrar outra peça nova pra trocar, Seu Luiz não tinha outro recurso a não ser conversar com o velho, pedindo ajuda.
Seu Vavá o recebeu mal humorado e respondeu, resmungando, o que já tinha sido anunciado pelos vizinhos: “Num faço não! É serviço apertado demais... e... tem uns trinta anos que eu trabalho pra burro nesse troço sem conseguir nada nessa vida...”. Seu Luiz não precisou pensar muito e nem usou qualquer habilidade persuasiva pra responder o que lhe parecia lógico: “Uai, tem trinta anos que ocê tá trabalhando aqui e não conseguiu nada? Como foi que cê se manteve esses trinta anos, sô? Foi com isso aqui que ocê viveu, sustentou a família e tudo mais, uai!... o sinhô tem filhos?” E o cabra respondeu, orgulhoso, já mudando o semblante resmungão: “Tenho sim. Tenho três, que já tão criado, trabalhano fora. Tem dois que trabalham na Vale e outro que é engenheiro formado, que ta trabalhano também.” A resposta mais amigável já puxou a conversa entre os dois que se identificaram na dificuldade dos negócios e satisfação na família. Até que o Seu Vava interrompeu: “Ô sô... peraí que eu vou ver uma coisa ali que vai resolver seu problema!” Foi lá dentro e voltou com uma peça nova, satisfeito pra fazer o conserto necessário para o seu amigo seguir viagem.
Depois de algumas horas no conserto, Seu Vavá cobrou pouco pelo trabalho e deixou fiar o pagamento da peça pra quando o empresário chegasse ao destino. Chegou tarde e os negócios não renderam milhões... Mas nada que o impedisse de ligar de volta perguntando o preço da peça, que o velho não queria falar. “Que nada, sô. Deixa que quando eu for em belorizonte ocê me serve um cafezin.” E ficou assim. O trabalho não rendeu tesouros além do que se tem no coração. E mais valeu o afeto guardado no peito, de quem buscou numa rocha a nobreza dessa vida...

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