"Não sei como uma pessoa tão ruim assim frequenta uma igreja, sabe?" Seu João Vicente ouviu dizerem isso e saiu, cabisbaixo, constrangido por sua fraqueza pra lidar com a tal bebida que o afoga em lamúrias... Não... a igreja não era lugar pra ele, gente tão ruim assim, que persiste no erro dia a dia, apesar da convicção de sua maldade. (Será que tinha gente melhor do que ele por lá?). Foi procurar outra ajuda.
Lembrou que um amigo tinha lhe chamado pra ir numa reunião lá no bairro, de gente como ele, que tenta dia a dia "evitar o primeiro gole"... Bom grupo aquele, onde as pessoas congregam sem religiosidade..., apenas por se identificarem na mesma fragilidade... Tinha aprendido isso na igreja... E quando estava a caminho do grupo, viu na banca o jornal dizendo que este "tinha sua eficácia contestada"... Dizia que o grupo exerce um bruto controle das pessoas, e ele não queria isso não... Ouviu na igreja também que ele tinha que decidir a própria mudança, e foi procurar outra ajuda...
Bateu na porta do prefeito, que prometeu tratamento pra quem precisasse. "Dotô" prefeito falou pra ele que o atendimento era lá na Saúde, e Seu João foi pra lá pegar a fila. O outro "dotô" não fez muita pergunta pra escrever no papel que era pra internar da clínica. Mas seu amigo já tinha ido, disse que "o tratamento lá é rezá o dia todo", e voltou fugido e fora de si...
Mas Seu João não é gente que desiste fácil... Aprendeu na infância que "na quaresma a gente tenta ser uma pessoa melhor". "Que quaresma é essa, se eu tô tentano o ano todo?" Lembrou do professor que falou do psicólogo que tem lá na escola, que atende gente como ele, tão ruim assim. Foi tentar mais essa, e tava frequentando toda semana. Parece até que deu certo. Mas um dia quando tava saindo ouviu dizerem: "Não sei como é que uma pessoa tão ruim assim frequenta psicólogo, sabe?" E voltou cabisbaixo... Não lhe negaram acolhida, mas será que tinha gente melhor do que ele por lá?
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