quinta-feira, 14 de abril de 2011

Fazer o bem faz bem?

Ouvi dizer numa campanha de promoção do bem estar social pelo rádio que "fazer o bem faz bem"... E usavam lá algum argumento do tipo: "a super-especialista em relações de poder entre os cães e que, portanto, pesquisa a relação de poder da hortelã no combate à depressão, garante que as reações químicas cerebrais ocorridas no caloroso contato com o "próximo" equivalem à agradável sensação de prazer ao se tomar um chazinho de hortelã"... Naquele momento em que minha atenção se dispersava entre a ficção científica midiática e a dura realidade diante de mim, uma mosca voou inquieta até pousar nessa tela que você está prestes a fechar.

Não sei bem onde começam os meus questionamentos a esse respeito... Mas tentando prender um pouco mais a sua atenção para a contra-reflexão, ou melhor, a contradição proposta, eu questionaria a noção de "bem" apresentada naquela campanha. Ou mesmo a nossa parca e opaca noção de bem... Estou certo de que tudo o que eu julgar ser da melhor possibilidade de benevolência, terá sua veracidade miseravelmente comprometida pelo simples fato de que "eu" estou julgando assim... (Mas, apesar disso, qual é a nossa referência de "bem"? Existe uma referência, não? E que nos incomoda muito...) E nem sempre o bem julgado que fazemos o é "bem", da mesma forma, à pessoa que o recebe. Ainda, por que se referir ao trabalho social, filantrópico, ou alguma forma de "favor ao próximo" como sendo atos de "fazer o bem", e não aos atos de cuidar das plantas no jardim de casa ou lavar as vasilhas empilhadas na pia... ou mesmo o agir com diligência e competência no próprio trabalho... públicos e assalariados? Segundo a perspectiva da campanha, parece que é porque valoriza-se a vida social em que nos dispomos de sentimentos egoístas para agir caritativamente em favor de uma sociedade melhor. E isso voluntariamente. Sim... é verdade. Mas isso é tão retórico que seria o mesmo que divulgar que a água tem gosto de água (sem, contudo, saber qual é o gosto da água...), sem tanto respaldo para uma campanha. Agora, incentivar o bem desses atos "sociais" pela garantia de bem ao próprio agente, não é retórico... é contraditório.

A não ser que esta divulgasse, em verdade, o inverso do proposto (a contradição que faz sentido...). Explico. Falando de vida social, é certo que o bem disposto ao outra pessoa não deve valor algum ao agente que o faz visto que, para tanto, se dispõe previamente de sentimentos egoístas... Ora, se esse agente se dispõe, então, das intenções de benefício próprio que aquela honrosa ação social o traria, ele não deveria buscar honra qualquer, ou qualquer prazer próprio, equivalente ao de um chazinho de hortelã... Não deveria "fazer o bem" pela garantia de "bem" retornado a si. Não que a sua ação não lhe possa ser prazeroza, mas o maior desafio para a vida social, para uma sociedade melhor, é o de mantermos posturas autruístas mesmo diante de incômodos desta causa. E isso não faz tão bem assim... Mas deveria ser mais provocado, coletivamente, em cada pessoa... como se propõe com uma campanha.

Tirar-se do centro dos objetivos das suas ações é um grande desafio para entender, mesmo parca ou opacamente, o que é o amor. Mas quando se tornar mais evidente a miserabilidade da nossa concepção de "bem", estaremos certos do que sempre buscamos ou chamamos de "melhor". Só quando vermos o que é realmente bom conheceremos de fato o bem que queríamos.

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