domingo, 12 de dezembro de 2010

Contra-tradição: dilemas sociais...

Nossas contradições compõem um processo de evolução social que percebo bem de perto nos dilemas da minha vida profissional, como assistente social. A noção dos processos dialéticos de desenvolvimento de sociedade pode nos ajudar a entender isso. Sem complicações, basta ler no Aurélio. “Contradição: (...) 4. Filos. Caráter essencial de tudo que é real: aquele que revela que cada coisa que é só se compreende pela negação de algo que a precedeu”. Ou seja, uma suposta verdade só existe em negação a outra que a precede. E a segunda verdade já precede outra, a ser contradita... E isso realmente nos proporciona desenvolvimento. A contradição nos faz evoluir! Mas, perversamente, isso também ocorre nas verdades de elites predominantes sobre as minorias. Mais ainda, isso ocorre quando nos afirmamos superiores aos outros, reproduzindo desigualdade...
Aprofundando um pouco mais, com algumas “certezas”, do ponto de vista da dialética, da centralidade do trabalho no desenvolvimento da sociedade, me pus a conversar com um amigo de perspectiva antagônica, donde surgiu o debate de que não é o trabalho o grande propulsor de desenvolvimento na sociedade, mas o processo de negociação do produto do trabalho, como grande determinante da produção de valor. Por um lado, o trabalho agrega valor às coisas. Mas por outro, esse valor pode não significar nada, a depender da negociação deste produto. Esse dilema entre as duas visões são a base de amplas divergências ideológicas, políticas, econômicas e, portanto, sociais hoje. Acontece que as duas podem ser verdade... O trabalho realmente agrega valor às coisas, bem como a negociação também pode alterar o valor real das coisas (principalmente com uma publicidade tão evoluída...). 
Ao final, então, me ponho a perguntar: o que é a verdade? Fato é que, independente se o trabalhador é valorizado ou se a liberdade de negociação é que o valoriza (ou desvaloriza), seja como for, o pensamento social ainda não conseguiu resolver o problema da desigualdade...
Aqui encontramos uma enorme limitação de nossas verdades... O processo dialético, de confronto histórico de verdades, proporciona amplas evoluções reflexivas de sociedade, mas não dá conta do processo de dominação presente em todas as relações sociais, e nele próprio... O processo de dominação é causa e conseqüência nas análises de sociedade. A gente estuda e critica a dominação já se sobre-afirmando em relação a outros (em muitos aspectos, não só ideológicos).
Pensando nisso, há alguns meses, eu observava o mundo parado a assistir a primeira Copa do Mundo na África, como um suposto marco, parcialmente que seja, de superação das distâncias sociais entre os povos. Daquela copa, entre os trinta e dois países presentes, saíra apenas um vencedor, supostamente melhor do que todos... Os outros trinta e um, que certamente deram algo de melhor, voltaram todos perdedores. São todos piores? Mesmo que fossem, no futebol, pra que esta organização mundial toda para afirmar quem é o melhor, ao mesmo tempo afirmando, declaradamente ou não, quem são os piores?
É isso que acontece intelectualmente, quando os que “pensam” são os que afirmam suas verdades sobre os que “não pensam”, no direcionamento da sociedade. Mais claramente, é o que acontece nas nossas disputas de empregos, no vestibular, e em muitas áreas da vida. É assim que acontece quando nos formamos, e entramos na guerra corporativista das profissões, as vezes defendendo-se e desconsiderando as relações de desigualdade reproduzida entre todas as profissões, e entre todas as pessoas... Como fugir disso? Acontece assim com cada um de nós, isolando-se ou confrontando socialmente, buscando sempre algo melhor, algo maior, que nunca encontramos em nós mesmos...
Ouvi, então, de um cientista social recentemente, que as tantas contradições da ciência social hoje, faz com voltemos sempre à tradição de seu pensamento. É... contradição também se faz com tradição...

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