terça-feira, 2 de agosto de 2011

Limites

Quais são os seus limites? Tenho pensado que um grande problema do ser humano é não reconhecer-se como um ser limitado, em determinados aspectos. Li numa análise, certa vez, que o mais genuíno dos pecados humanos é o de não aceitar-se simplesmente como homem, e querer ser como Deus (segundo o relato de Genesis, na Biblia). Mas... mesmo que você não acredite na Bíblia, me diga: você (re)conhece os seus limites?

Me parece que é justamente nesta interseção das limitações humanas que nos encontramos com Deus. Não é difícil perceber isso. Ao pensar sobre a infinitude do tempo ou do espaço, por exemplo, por mais que a tentemos “aprisionar” em contagens astrológicas ou cronométricas, o infinito não é totalmente compreensível apenas por essas contagens. Se você olhar por um minuto para o céu, para além das estrelas, tentando responder para onde especificamente está olhando, poderá encontrar-se num grande conflito de compreensão do infinito... ou responder, vaziamente, “para o nada...” (e o que é o nada?!) O mesmo ocorre com o tempo. Afinal, quando começou tudo? O que havia antes do começo? Ou o que haverá depois do fim? Em relação a nossa pequena existência, o tempo e o espaço são um universo eterno... E como nos relacionamos com esta eternidade?

Ainda, outro elemento que curiosamente nos revela limitações é a nossa própria razão. Contraditoriamente, é por ela que evoluímos, mas é também nela estagnamos na incapacidade de compreender os limites da nossa evolução. É certo que não podemos explicar tudo, na vida. Por mais profundas que sejam as explicações científicas da natureza, ou as fórmulas da matemática, há elementos que extrapolam a ‘naturalidade’ humana, como o infinito, limitando a nossa capacidade de compreensão da vida.

Mas isso é curioso porque o conflito que vivemos para a compreensão dessas verdades é um fator puramente racional. Racionalmente, não podemos explicar essas questões, nos encontrando, ao mesmo tempo, com o limite da natureza dos fatos e o limite da nossa razão. E pensando nisso, eu perguntaria: o que é a razão? Será simplesmente um conjunto cefálico, composto de átomos energizados que, reagindo entre si, são capazes de criar formulas matemáticas escabrosas e fora de si? E, se for assim, vale lembrar a citação de Lewis (Milagres, p. 29), do autor Haldare (Possible Worlds, p.209): “Se meus processos mentais forem inteiramente determinados pelo movimento dos átomos em meu cérebro, não há razão para supor que minhas crenças sejam verdadeiras (...) e, portanto, não há razão para supor que meu cérebro seja composto de átomos”. Embora o nosso raciocínio lógico das coisas aconteça a partir de reações químicas, de uma natureza física, é certo que a razão não se limita a essa materialidade. Assim como o tempo é muito mais eterno do que meu limitado relógio, a ‘Razão’ é muito maior do que minha lenta racionalidade... E, seja ela como for, há sim uma razão maior, uma verdade, que todos nós buscamos. Para encontrá-la, no entanto, é preciso reconhecer que ela nunca será nossa, pobres seres limitados.

Pode ter sido uma viagem pensar no infinito, ou na subjetividade da razão. Mas sejam nesses, ou nas nossas emoções, na dor, ou nessa vaga materialidade de fumaça dos corpos, nas “fracas forças” físicas, no sono, ou até nas (des)harmônicas relações sociais, podemos perceber rotineiramente que somos seres miseravelmente limitados. Mas, por outro lado, nas alegrias, nessa natureza cheia de vida, no re-vigor da alma ou na harmonia de uma música, percebemos a certeza de uma relação desta frágil e limitada humanidade com algo muito mais forte e infinito. Justamente quando percebemos a nossas limitações é que podemos vislumbrar o que é eterno. Reconhecer nossos limites é o primeiro passo para encontrarmos com a eternidade de Deus.

Um comentário:

  1. Trago ao seu texto a corroboração da Ultimato http://www.ultimato.com.br/conteudo/ateismo-fe-e-racionalidade
    ...
    “A racionalidade estaria exclusivamente na ciência. É um arranjo ruim para nós, pois a ciência fica com a realidade e nós com o resto (a frase é do matemático de Oxford, o cristão John Lennox e foi usada num debate com Richard Dawkins, que pode ser visto no Youtube, com legendas em português).

    A tradição cristã não tem nada a ver com esse arranjo. Cabe lembrar que racional é o raciocínio que encontra fundamento na realidade. Na verdade, temos com o ateísmo uma profunda divergência em relação à natureza da realidade. Em que consiste a realidade? Os ateus são naturalistas, materialistas, e sustentam que a natureza é tudo o que existe. Nós afirmamos que há uma realidade sobrenatural, além desta. Francis Schaeffer usa a sugestiva imagem de uma laranja com duas metades. O naturalista vê apenas uma metade da laranja e ignora a existência da outra. Nós vemos a laranja inteira e, se estamos certos, a fé é a verdadeira racionalidade”
    ...

    Assim, em minhas palavras, a racionalidade é sobrenatural, e o que é sobrenatural ? Para os que tem preconceito com esse termo...

    É apenas a manifestação de Deus...Deus é o Deus do impossível que tudo pode, não pensa como nós, não tem “receita de bolo”, ou dogmas para se manifestar , e vem se expressando na minha e sua vida, com o propósito de sermos direcionados para mais perto dEle.

    Contardição...

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